Justiça social, currículo e minorias sociais: possibilidades de emancipação na perspectiva freiriana
Abstract
Apresenta-se a discussão da possibilidade de se educar em e para os direitos
humanos nos currículos das instituições de ensino superior, com vistas a proporcionar
justiça social para as pessoas em situação de vulnerabilidade, o que torna esse
trabalho justificável para alguns autores que compartilham dessa perspectiva. Partiu se da premissa que a justiça é uma disputa de grupos e pessoas distintas, tendo-se
como pergunta norteadora: como o currículo do ensino superior pode ser um
instrumento de auxílio para contribuir com a justiça social? A hipótese é que um
currículo que esteja na perspectiva de Paulo Freire e na vertente intercultural pode
conduzir a um processo de emancipação das pessoas e para a diminuição na
desigualdade e discriminação social das minorias sociais, por meio de espaços
dinâmicos de fala e escuta. A fundamentação teórica se dá em Paulo Feire, em seus
ensinamentos sobre a dinâmica de como ensinar e aprender, utilizando-se como
principais referenciais teóricos as concepções de justiça em Arendt, Rawls e
Boaventura Souza Santos, e de currículo em Sacristan (2000) e Arroyo (2015). No
que tange à metodologia, realizou-se por meio de levantamento bibliográfico e
documental, direcionando-se para abordagem qualitativa. Tem-se como objetivo geral
compreender como a aplicação da visão freiriana, utilizando-se de uma concepção de
currículo intercultural (já presente nas universidades públicas), pode ser um
instrumento facilitador para criar espaços de diálogo. Ante a esse intento geral,
organizam-se quatro metas específicas, a saber: a) expor um breve apontamento de
como fundamentar os direitos humanos; caracterizar possíveis interrelações com as
noções de justiça e currículo, por meio de conceitos e práticas de lutas cotidianas e
como isso pode ser um facilitador de espaços de diálogo para as pessoas,
principalmente as minorias sociais; b) analisar como se faz possível uma educação
em e para direitos humanos na perspectiva freiriana, em consonância com o plano
nacional de educação em direitos humanos; c) compreender se há possibilidade (a
fim de corroborar a hipótese) de as disciplinas das ementas de cinco instituições de
ensino superior brasileiras proporcionarem aos estudantes de graduação em Filosofia
uma visão crítica que os permita compreender a realidade na perspectiva da justiça
social e emancipação freiriana; d) discorrer com a sociedade sobre os assuntos
abordados por meio de dois produtos: no primeiro, o desenvolvimento dos temas
discutidos a partir de 30 vídeos organizados em um blog e, no segundo, análise sobre
direitos humanos em um cineclube, auxiliado por um manual aplicado a cinco filmes
selecionados: Venon (2018), O Sorriso de Monalisa (2002), Vestido Nuevo (2007),
Tudo o que Aprendemos Juntos (2015) e Antes o tempo não acabava (2016). Os
resultados demonstram que a justiça pode se valer de um currículo intercultural na
perspectiva freiriana para se ter esperança e expectativa de mudança das condições
de vida das pessoas em estado de vulnerabilidade social, permanente ou temporária,
pois o currículo tem natureza dinâmica e não estanque. Contudo, essa esperança
deve ser pautada em lutas diárias e constantes, já que a obtenção de direitos para um
grupo, geralmente, ocasiona perda de privilégios para outros. The discussion of the possibility of educating in and for human rights in the curriculum
of higher education institutions is presented, with a view to providing social justice for
people in vulnerable situations, which makes this work justifiable for some authors who
share this perspective.Based on the premise that justice is a dispute between different
groups and people with their respective identities and needs, the guiding question was,
how can the higher education curriculum be a tool to help contribute to social justice?
The hypothesis is that a curriculum that is in Paulo Freire's perspective and in the
intercultural aspect, can lead to a process of emancipation of people, and to a decrease
in inequality and social discrimination of social minorities, through dynamic spaces of
speaking and listening.The theoretical foundation is in Paulo Feire, in his teachings
about the dynamics of how to teach and learn, using as main theoretical references
the conceptions of justice in Arendt, Rawls, and Boaventura Souza Santos, and of
curriculum in Sacristan (2000) and Arroyo (2015).As for the methodology, it was carried
out by means of a bibliographic and documental survey, focusing on a qualitative
approach.With these introductory remarks, the general goal is to understand how the
application of the Freirian vision, using an intercultural curriculum conception (already
present in public universities) can be a facilitating instrument to create spaces for
dialogue.With this general intent, 4 specific goals are organized, namely:1-Expose a
brief note on how human rights can be grounded, as well as characterize possible
interrelations with the notions of justice and curriculum through concepts and practices
of everyday struggles, and how this can be a facilitator of spaces of dialogue for people,
especially social minorities;2-Analyze how it is possible to have an education, through
the curriculum, in and for human rights from a Freirian perspective in line with the
national plan for human rights education;3-Comprehend if there is a possibility (in order
to corroborate the hypothesis) that the subjects on the menus of 5 Brazilian higher
education institutions provide philosophy undergraduate students with a critical vision
that allows them to understand reality from the perspective of social justice and
Freirean emancipation;4-Discuss the issues discussed with society by means of 2
products (a professional master's degree requirement): in the first, a development of
the issues discussed by means of 30 videos organized in a blog, and in the second,
an analysis, about human rights in a cineclube, aided by a manual applied to 5 selected
films: Venon (2018), Monalisa's Smile (2002), New Dress (2007), Everything We
Learned Together (2015), and Before Time Wasn't Over (2016). The results show that
justice can make use of an intercultural curriculum from a Freirian perspective in order
to have hope, an expectation of change in the living conditions of people in a state of
permanent or temporary social vulnerability, because the curriculum has a dynamic
nature, not watertight.However, this hope must be based on daily and constant
struggles, since obtaining rights for one group usually means losing privileges for
others.