Legalismo autocrático e a redução da participação popular nos conselhos gestores federais
Abstract
A partir da doutrina do legalismo autocrático e da teoria crítica da democracia, esta
dissertação tem como objetivo refletir sobre alguns atos normativos do governo de
Jair Messias Bolsonaro que promoveram alterações nos conselhos gestores de
políticas públicas federais. Desde 2019 o Presidente da República exerceu sua
competência normativa para editar diversos atos normativos que tiveram como
consequência tanto a mudança na composição e funcionamento, quanto até mesmo
a extinção de conselhos gestores. A partir das doutrinas sobre o Poder, o Estado, e a
Jurisdição intenta-se investigar se esse uso do poder normativo pelo Chefe do Poder
Executivo pode ser qualificado como um instrumento do chamado legalismo
autocrático. O marco teórico fundamenta-se na teoria crítica da democracia –
especialmente a partir da dimensão da democracia deliberativa – e na teoria crítica do
direito, através de uma análise transdisciplinar que busca articular aportes teóricos da
ciência jurídica e da ciência política. O método adotado é o analítico-dedutivo, com
reflexão teórica da literatura e da legislação acerca do assunto. Como conclusão,
identificou-se que a edição de decretos e outros atos normativos para reformular os
conselhos gestores – tanto para aparelhar, capturar e até mesmo para extinguir essas
instituições –, se trata de uma das ferramentas do legalismo autocrático enquanto
fenômeno que se utiliza de instrumentos jurídicos rumo ao autoritarismo e a restrição
do princípio democrático. O Presidente da República ao se utilizar o regular
procedimento para o exercício da competência normativa com a edição de decretos
autônomos (ou de organização) para reorganizar a estrutura administrativa e de
maneira dissimulada amplia os poderes do Executivo. Reorganizando os conselhos
gestores federais, resulta num desmonte, na captura e na descaracterização dessas
instituições participativas e afasta a sociedade dos processos decisórios estatais, viola
os limites de sua competência normativa estabelecida pelo Estado Constitucional.
Assim, configura-se uma das estratégias que governantes autocratas se utilizam no
caminho rumo à erosão da democracia e a consolidação no poder.